segunda-feira, 18 de julho de 2011

Mulher e cidadania





“Façamos da interrupção um caminho novo/ Da queda um passo de dança/ Do medo uma escada/ Do sonho uma ponte/ Da procura um encontro”-Fernando Sabino



Fazer valer o lugar que a gente ocupa no tempo e nos espaço.  Cair, levantar, reagir, decidir e ir. Ir em frente sem medo de ser feliz. No curso “Mulher:Líder Comunitária”, realizado no CCM Santo Amaro, elas chegam radiantes vindas de pontos distantes. As diversas comunidades guardam tesouros em diversidades fascinantes. Carregam histórias de vida em ação, reação e superação. De subserviência a liderança. Não querem esmolas, nem choro, nem vela e sim oportunidades.

Foto: Elizabeth Barbosa 2011


Uma, conta que quando chegou a São Paulo, trazia toda sua mudança, dentro de uma sacola de supermercado. Que, se hoje fosse se mudar de cidade, seria necessário contratar uma carreta bem grande! Outra, fala que tem casa, bazar e quitanda, obtidos com dez reais. Como? Estava numa de horror. O marido doente e desempregado. Ela, descartada pelo mundo corporativo por conta da pouca instrução e os mais de quarenta anos de idade. Passando por uma sacaria pegou todo seu patrimônio (os dez reais) e, comprou tudo em sacos de linhagem alvejados. Chegando em casa, pintou e bordou. Saiu de casa em casa oferecendo. No fim do dia, esbodegada, tinha vendido todos. Dia seguinte, voltou à sacaria para comprar mais sacos. A proprietária, então lhe disse que precisava de uma pessoa para os serviços domésticos. Era a oportunidade, mais que esperada. De pronto, se candidatou e passou no teste, um trabalho realizado lá e no mesmo dia. Com a carteira assinada mais o fornecimento dos sacos e o trabalho extra em casa, deu entrada num terreno. Começou a construção.  Tijolo com tijolo e um mutirão de amigos. Uma garagem então se fez. Nela, um pequeno bazar nasceu. A venda de panos de prato floresceu.  Montou bazar que o marido foi tocando junto com o tratamento, enquanto isso ela dava um duro danado na faxina. Sempre pintando e bordando na folga. A obrigação da cidadania calcada no sofrimento e mergulhada na ação. Reação na cidade dos negócios. Criou e educou filhos driblando a falta de segurança na periferia da existência.

Encontrar segurança no terreno minado em que vivem, aceitando os mistérios e as incertezas da vida. A fé como instrumento da resistência garantindo a resiliência.  

Mulheres liderando sua vida, sua lida. Dentro de cada uma, está montada uma árvore dos sonhos, carregada dos frutos das realizações. Uma cooperação que depende do modo como as pessoas se organizam e aumentam a conectividade para o mundo social. É como disse Maquiavel, a fortuna sendo mulher, premia os bravos e os ousados.
Por:Suely Aparecida Schraner



Nota: Curso realizado em abril 2011, no Centro de Cidadania da Mulher, por Adriana Maciel. Projeto elaborado por Elizabeth Barbosa.

Um comentário:

  1. Lindo texto, lida forte das guerreiras pela vida, construindo junto a vida de milhares de outras vidas, frente, a mobilização social e comunitária destas batalhadoras!!

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