quinta-feira, 30 de abril de 2015

Ao rés do chão






Distraídos tropeçaremos. Um momento de descuido e "cataplam"! Beijei o chão.

No pronto socorro, que de pronto não tinha nada, a espera foi de mais de duas horas. Plano de saúde privado não difere muito do público não. Saúde pela hora da morte, como dizia a avó.

Enfim em casa. Uma bota de gesso pesando nas ideias. Vida ao rés do chão.

Ah, esse tal de repouso absoluto! Descobri um monte de ações que eu nem sabia que fazia na existência vertical. Só agora eu sei.

Mais e mais utilidade pra bunda. Descer dezesseis lances de escada, de frente e com o auxílio das mãos. Palmas em “petição de miséria”. Danação.
  
Subir de costas é pior que purgante. Levantar o abdômen apoiando-se com as mãos, verdadeiro  “lesa autoestima”. Suores cascateando fumegantes. Pulsos ardentes. Coração saltitante. A curva da escada baila comigo. Bundas não foram feitas pra isso não.

Levantar e aprumar, perdição.  Sobrados não são nada inclusivos.
 
Braços e mãos livres, um achado. Bengalas como extensão da mão e suas mil e uma utilidades: apagar luz, puxar objetos e a cadeira de rodinhas, entre outras.

Muletas que mordem axilas. Mastigam palmas das mãos. Voracidade na cidade.

Nesse ínterim, a rua sentirá minha falta. Calçadas esburacadas idem. O sol que me ilumina e derrete a neve.  

Dureza na leveza de papo pro ar. Leituras.

Parque de diversões





Da janela do carro, a caminho de Parelheiros, no Bairro de São José, vejo um parque de diversões.
Brinquedos velhos, enferrujados, empoeirados. 

Da poeira da memória emerge o Parque de Diversões Imperial. Ficava próximo ao Banespa e tinha um córrego ao lado. O ponto de ônibus era bem em frente.

O Ato Institucional Nº 5, dava o tom da época e a 10ª Bienal de São Paulo, ficou conhecida como a “Bienal do Boicote”. Isto porque artistas de diversas nacionalidades recusaram-se a participar como forma de protesto.

Eu era a mais velha de oito irmãos e, como trabalhava, podia me dar ao luxo de levá-los lá, vez por outra. Com qualquer dois cruzeiros, lá estávamos na roda gigante. Roda que me remete à estrofe da música do Gilberto Gil: 

Foi fazer no domingo um passeio no parque/Lá perto da Boca do Rio/Foi no parque que ele avistou Juliana /Foi que ele viu/Foi que ele viu Juliana na roda com João /
Uma rosa e um sorvete na mão/Juliana seu sonho, uma ilusão/Juliana e o amigo João
O espinho da rosa feriu Zé/E o sorvete gelou seu coração”.

Tobogã também fazia muito sucesso. A gente sentava num saco de estopa lá no alto do escorregador. Uma das crianças entre as pernas, para economizar viagem. Com um forte empurrão do operador, lá íamos nós ladeira abaixo, sem freio e sem buzina. Cara pálida e perna bamba era a indicação que tínhamos escapado ilesos. Ufa!

Paramos de freqüentar o tobogã quando surgiu o boato que estavam colocando "gilete" no saco. Ai,ai.

As crianças adoravam e hoje adultos, ainda me agradecem pelas boas lembranças.

Meu namorado na época, sempre ia comigo para ajudar a cuidar da criançada. Uma vez, com aquela “escadinha de crianças”, estávamos no ponto, esperando o ônibus.

Passou um caminhão "pau-de-arara" e da caçamba gritaram: “Aí hein, baixinho”? 
E ele: “Tá vendo o que você me faz passar? Tão pensando que é tudo filho meu”.