domingo, 25 de março de 2018

Frida



Frida no sarau Clamarte


Os ruídos. Os motores. O pulso da vida. 
Mecânica.
O existir na oficina.

Na estação dos calores, entre mesas, cadeiras. 
As gentes.
Latidos em  backing vocal.

Fim de dia. Estação dos calores.
Noite de lua. 
Carnaval.

No recitar e nas artes, a graça é canina.
Um laço ata-se ao pescoço como a fidelidade e amizade ata-se ao dono.

Abana o rabo com o coração. Um rabo feliz. De criança festiva. 
E salta e corre. Aos pulos,  ziguezagueando pelo salão.

Entre humanos, tantos. 
Um afago aqui outro ali.
Tátil aconchego. 

Senhora do sofá da casa. 
Paladar de não ração. O pulso do querer. 

Focinho empinado. O faro da descoberta,  à  mil.
Não tem um dono. Ele é que a tem. 

Isso é Clamarte. 

Morre




Morre

De:Suely Schraner 
Para:Carlos Heitor Cony (1926-2017)

Ventre que abriga onde sonhos andaram. 
Memórias que acalentam quimeras. 
Histórias que engrandecem as mentes inquietas. 

Chegadas. 

Onde havia calmaria, desassossego. 
Silêncios ruidosos em almas emudecidas. 

Vale a vida para morrer? 
Substância dos que se vão, que aduba e aquece. 

Vem a chuva, a tempestade. Travessia de nuances mil. 

Chega a hora do adeus. Despedida sem pedaços. Refrigério.

Claras lembranças ensombradas. 

Liberdade de expressão. 

Os presentes. Os passados. 
Imortais. 

Abre-se. Desabrocha-se. Cresce-se. Amadure-se e morre. 

A vida consumindo o que a alimenta. 

Finitude revigora a crônica do agora. 

A ampulheta das horas. 
Ganha-ganha. Perde-perde. 
Prontidão dos segundos. 

Minutos, horas,

vai embora. 

Ano novo, vida nova.
Travessia. As margens de cá, as margens de lá. 

Sem palavras. 

As matérias da memória. 

Ressurreição. Um quase aqui. Um acolá.
Sigamos.