O filho sofreu um seqüestro- relâmpago. Ao estacionar na calçada da
rua Olavo Bilac, região de Santo Amaro, dominaram-no. Circularam com ele pela
noite afora. Sacaram dinheiro, fizeram compras, tudo o que podiam. Raparam o que tinha na mochila. Enfim,
aquele terror todo, que conhecemos bem dos noticiários policiais, do pão nosso
de cada dia. Pra encurtar conversa, ele acabou sendo liberado na Marginal
Pinheiros, de madrugada, no frio da desesperança. Com a ajuda do pessoal de um
posto de gasolina, conseguiu contatar o irmão que foi resgatá-lo.
Amanheceram fazendo Boletim de Ocorrência. Questão de “estatística”. Sabemos que são
raras as soluções para este problema já de tão crônico nesta cidade. Polícia que
privilegia o confronto e a prisão, gerando mais matéria prima para o crime
organizado, ao invés de fazer prevenção.
Estamos todos nós, reféns do medo. A própria polícia manda não reagir,
entregar tudo, respirar fundo e dar graças que Thanatos, o Deus da Morte, não se fez presente naquele momento.
O prejuízo foi grande. Ele havia equipado o carro. Além disso, levaram celular , óculos e mais coisas que o seguro não cobre. Fora a chateação com a imensa burocracia e demora no ressarcimento.
O prejuízo foi grande. Ele havia equipado o carro. Além disso, levaram celular , óculos e mais coisas que o seguro não cobre. Fora a chateação com a imensa burocracia e demora no ressarcimento.
Vivemos numa guerra urbana, essa é a verdade. Sempre ensinei aos meus
filhos, que quando nascemos ninguém nos prometeu um mundo justo. Jamais combater a violência com mais
violência. Equilibrar a injustiça com a
bondade humana. Acreditar na força do bem. Neutralizar a revolta e intolerância
com atitudes que possam melhorar nossos dias neste planeta. Aceitar as adversidades
e mistérios da vida. Enfim, viver bem no mundo que se tem.
O desejo de segurança nos acompanha dolorosamente. Ter pessoas próximas
dominadas, roubadas de seus pertences, aterrorizadas, é como despencar de um
abismo sobre pedras pontiagudas. Alteram-se hábitos básicos. Trava-se a
garganta. Nuvens escuras toldam os
pensamentos. A sensação de impotência deixa-nos prostrados.
Cevaram meu ânimo. Desancaram-me e faltou-me o chão. Parecia que roubaram minha alegria e
disposição de falar. A única vontade era ficar isolada, quieta. Passei do
estado de preocupada para o de aflita, agoniada.
Mas, como se diz por aí, a sombra não existe sem a luz, nem a luz existe
sem a sombra. Embora traumatizados, clareou. O apoio e solidariedade dos amigos
pontilham o céu da esperança com numerosas estrelas. Assim os sonhos dão lugar
aos pesadelos e a vida continua.