domingo, 30 de outubro de 2011

Conte Sua História de SP: Ouvinte faz parte da história

Conte Sua História de SP: Ouvinte faz parte da história

ter, 25/10/11 por milton.jung | categoria Conte Sua História de São Paulo, Rádio na Era do Blog | tags , , ,

No Conte Sua História de São Paulo, a ouvinte-internauta Suely Schraner, assídua colaborada deste quadro, faz homenagem aos 20 anos da CBN:
No dia 1º de outubro, dia em que se comemora o aniversário da CBN, é também consagrado à deusa da Palavra, Fides.

No começo era difícil sintonizar. No meio da notícia, entrava um “aleluião”. Rádio pirata evangélica, se interpunha entre o ouvinte e a “All News”. Sintonia fina, finíssima. Melhor nem triscar no dial 780 AM / 90,5 FM.

Na minha “cozinhoteca” (mistura de cozinha, biblioteca e cdteca) o dia passa em ondas “CBêNicas!. Desde “Jerônimo, o justiceiro do sertão”, novela radiofônica dos anos 60, sou totalmente AM. O radinho de pilha embaixo do travesseiro, presente do pai como compensação por uma grande perda. Hoje, moderno AM/FM, me acompanha o tempo todo. Fiel companheiro interativo. A arte de transformar palavras e ações em imagens na mente do ouvinte.

A trilha sonora dos meus passos é como a de muitos cidadãos desta metrópole. Aliviando o tédio nas manhãs geladas,o trânsito caótico ou redimindo uma insônia pertinaz . A locução liberando o pensamento. Conferindo interesse às palavras alinhavadas.
Contribuindo para o estro, a criatividade, elevando os níveis de oxitocina, o Conte Sua História de São Paulo, cumpriu a função de dar vez e voz ao ouvinte.

Suscitou desejos, impulsionou uma constelação de memórias para contar algo e, mais tarde, escutar com emoção indescritível. É a CBN se instalando intensamente nas mentes e corações paulistanos.

Dialogando com feijões na pressão, batatas ferventes, arroz soltinho. Por isso, um gosto incomparável, um vício prazeroso, inexplicável. A locução e a sonorização numa harmonia perfeita, seguem seduzindo nesses 20 anos.

O Conte Sua História de São Paulo vai ao ar, aos sábados, logo após às 10 e meia da manhã, no CBN SP. Você pode participar enviando uma história por escrito ou agendando uma entrevista em vídeo e áudio no site do Museu da Pessoa.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

À Maria da Penha, professora e voluntária


 
E il naufragar m’è dolce in questo mare (Leopardi)

Pés no chão
E passos para seguir
Erupções efusivas.
A língua, a cidadania


Mente mergulhada a ensejar
Saberes a dedicar

Tempo, Talento, Trabalho
O italiano a ensinar

O seu profissionalismo
Presença fundamental
Pontualidade que a esperança traz

Magmas. Placas tectônicas. Ensinamento inefável
Emergem, concretos em nossas mentes.
Como a expansão dos fundos oceânicos
Mar e moto.

Maria da Penha ministra aulas gratuitas, projeto NCCAPZ (Escola Cidadã e Solidária), aos sábados, no EMEF Dr. Miguel Vieira Ferreira, na Cidade Dutra, São Paulo.
Inscrições:F. 9145.1941 (Maura) ou 8834.7790 com a Marlene .

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Dramí







A mãe sempre adorou cães e gatos. Especialmente cães. Eram tantos lá em casa que dava uma certa ojeriza. Como ele apareceu não consigo me lembrar. De origem duvidosa, era o que se chamava, naquela época, de vira-latas. Hoje, mais certo seria fura-saco, já que são raras as latas de lixo nas ruas como antigamente.

Era de um branco rajado de amarelo e tinha um olhar brilhante e atento. Em pouco tempo se destacou. Apesar da origem bastarda - e talvez até por isso mesmo -, era de uma inteligência aguçada. E a lealdade então, essa era fora de série. Se o pai queria bater em algum filho (éramos dez), primeiro tinha que prender o Dramí. Caso contrário, ele esquecia quem era o dono da casa, avançava, mordia, não deixava que maltratassem seus amiguinhos. O pai sequer podia levantar a voz pra nós que ele já rosnava. Às vezes, o pai fingia que ralhava com a criança em seguidas demonstrações para os outros. Todos se admiravam daquele cachorro precursor do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).

O Dramí cresceu assim. Entrava cachorro, saía cachorro em casa, mas nada se comparava à dedicação dele. Até eu, não podia ficar indiferente.

Naquele 1964, trabalhava de dia e estudava o ginasial à noite. Da casa onde morava até o ponto de ônibus eram cerca de quinze minutos a pé, em rua de terra, com poucas luzes na frente das poucas casas. Percurso perigoso. Todos os dias, invariavelmente, sem que ninguém tivesse ensinado, o Dramí ia comigo até o ponto e, na volta, pra mais de meia-noite, era ele quem estava lá, esperando-me descer do ônibus.

E quantas vezes livrou meu irmão mais novo de surras por brigas na rua, ao ponto em que a molecada sempre dizia: "Você provoca a gente porque o cachorro tá por perto. Vem sem o cachorro pra ver!".

Mas os anos se passaram. O olhar foi ficando sem brilho, embaçado. Havia uma tristeza naquele jeito de ser. Dormindo parecia delirar. Por fim, decidiu-se por uma poltrona da sala. Daquelas de plástico vermelho brilhante, com estrelinhas douradas. Era lá que ele se abancava. Não havia quem fizesse ele descer para a gente se sentar! Até que ninguém ligou mais. Ficou sendo o sofá do Dramí.

Aos poucos foram caindo os dentes, os pêlos. Já não corria mais em defesa dos amigos, agora adultos. Até que um dia amanheceu morto, sentado e meio que dormindo no sofá.


Publicado no www.saopaulominhacidade.com.br
Categoria: Outras histórias
Autor(a): Suely Aparecida Schraner | história publicada em 29/10/2008