domingo, 30 de dezembro de 2012

2013 bate à sua porta





Para o ano que está chegando, desejo para vocês, muita poesia, boa bebida e excelente comida. Agradáveis passeios e encontros alegres.  Que seus parentes os adorem e que ninguém faça feio na hora agá.

Que no próximo ano, vocês possam mergulhar de cabeça em novos projetos e se elevar com boas idéias e reconhecimentos.  Mas se nada der certo, que tenham serenidade e energia para “sacudir  a poeira e dar a volta por cima”, como na canção.

Que todos possam arejar a mente com os acordes das melodias, em cada manhã, renascidos.

Que a música seja o princípio universal da bondade.

Que aquele que diz que não gosta de ler, descubra um mundo de aventuras, diversão e companheirismo nos livros.

Que constatem que a rotina com emoção é paixão, nunca monotonia. Que pratiquem a tolerância tão rara em dias de trânsito e alagamentos.

Que percebam que, antes de dar a mão à solidão, podem dar a mão ao teclado e assim alcançar um amigo do outro lado.

Que entendam de uma vez por todas que, “compaixão”, é compartilhar a paixão.  2013 bate à sua porta.  Que vocês o recebam bem e cuidem para que ele se torne excelente ano!



sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

O fim do mundo







Era manhã e parecia noite. Entretanto, o céu era brilhante entre azuis de miosótis e vermelho paixão. Rostos imensos, imaculados espocavam pelos ares. Os lábios se moviam e nada diziam. 

Gravidade zero.

Vacas esvoaçando ao lado de passarinhos agitados. Prédios e borboletas pairando no ar. Ondas verdes de mares infinitos elevados.


Baleias e golfinhos alados. Homens, mulheres e crianças, lado a lado. Brincadeiras de  “super-homem”.

Cabeças a velejar pelo fim do mundo anunciado. As árvores e jardins, finalmente libertados. Raízes tremulantes no horizonte a bailar


Vidas insuportáveis se suportando.  Estabilidades desorganizadas.  Clarões. Tudo girando em círculos. Redemoinhos vitais, virtuais.


Civilização à beira da noite em meio a batkuns . Nenhum batikundun. 

Mudanças cósmicas. Fim deste mundo cíclico. Redenção. 

Passagens para estágios superiores. Renovações apocalípticas. Dias melhores a cintilar. Que venha novos  ciclos.

Desejo





Que você seja mais badalado do que todos os sinos de Belém. Que seu time seja o melhor. Que antes do fim do mundo você ganhe na Megasena. Que você seja contemplado com o Nobel e todos os prêmios correlatos. Que o clima de festa, paz, amor, alegria se transforme em compaixão e permaneça todo dia, toda hora, a cada minuto. Que a chama da esperança nunca se apague. 

Mobilidade?






foto: suely schraner






Era um dia nublado quando chegamos para a primeira reunião na Fundação Dorina Nowill para Cegos. O sonho da mobilidade e maior autonomia, na ponta da bengala. 

Bengala branca. Esta bengala é um recurso fundamental para garantir a mobilidade do deficiente visual. Mantém a postura ereta. É como uma extensão do braço. Adepta da geometria. Com sua ponta ela toca linhas retas, linhas curvas e suas subdivisões. E toca também o lixo, pernas distraídas, entulho na calçada. Encaixa copos descartáveis jogados no chão. 

A bengala, muitas vezes, é rejeitada e dá medo. Remete ao preconceito. Sinônimo de velhice. Haja vista o logotipo no bilhete do idoso, aquele, simbolizado pelo bonequinho curvado, segurando uma bengala e simulando dor nos quadris. Ai, ai...

Sensibilizar os espaços. Desafiar inseguranças, vencer o medo. Compartilhar vias públicas e multiplicar respeito, um desafio permanente.
Na sala de reuniões, um grupo ávido por mais autonomia para finalmente poder circular por aí.

Um disse que a mobilidade está dentro da gente. Outro sonha ter três bengalas: uma para direcionar, outra para apoiar, e uma terceira para buzinar. Ideal de outro com as vistas avariadas: nunca fazer sinal para o caminhão do lixo parar pensando que era o ônibus.

Aprendi que, na Atividade Vida Diária (AVD), a terapeuta ocupacional, dá condições ao deficiente visual para fazer o quer, com mais segurança. Por exemplo, fritar um ovo sem se queimar.

Na Fisioterapia, o objetivo é fortalecer os músculos e desenvolver um bom padrão de marcha, ou seja, pisar primeiro o calcanhar e em seguida a planta do pé. Além disso, trabalhar a lateralidade: esquerda e direita. 

No Programa de Orientação e Mobilidade, a importância da auto-segurança. Enfim, todas as áreas estão interligadas.

Neste compartilhar, um olhar mais apurado pela região da Vila Clementino. Uma legião aflui para aquele quadrilátero hospitalar: ruas Borges Lagoa, Pedro de Toledo, Marselhesa, Napoleão de Barros, Botucatu e Diogo de Faria. 

Brigando com postes, saídas de garagem, reformas e calçadas esburacadas. Superando preconceitos. Construindo dias melhores.
Na condição de Guia Vidente, aprendo a verbalizar a lateralidade: ao invés de dizer de dizer “tem um lugar aqui”, falar: “tem um lugar à sua frente, à direita”. Que a pessoa com deficiência visual, deve segurar na altura do cotovelo do guia vidente, no pulso ou ombro, dependendo da diferença de altura entre ambos. Facilitar a acessibilidade.

Eu e ela atravessamos as mesmas ruas, percorremos estes caminhos. A geografia do cego é um mundo visto pelos ouvidos, vozes, cheiros e toques.
Não é um cajado de Moisés ou um cetro de Reis. É a sua bengala branca que a conduz. Segue compartilhando a via pública, os pisos táteis. Tateando vida afora, multiplicando respeito. Driblando preconceito e a falta de respeito de alguns. Ser incluída é poder circular pelo mundo com desenvoltura.

Outro dia, pedi a uma jovem no ônibus para dar o lugar para ela. A moça recusou dizendo que o banco para cegos era o outro, mais atrás. No fim, uma senhora que estava lá, levantou-se espontaneamente e cedeu o lugar. Percebi depois, que além de idosa ela estava indo para uma quimioterapia, no Hospital São Paulo.

Dias destes, ouvi de uma deficiente visual:  “ tenho a preferencial, mas, se não me cuidar, me derrubam no chão”. Há néscios dos direitos e da solidariedade .Há também os que multiplicam respeito. Menos mal.

No quadro da recepção da Fundação, há uma inscrição que diz mais ou menos isso: a melhor maneira de agradecermos por enxergar é ajudar quem não vê. Uma maneira inefável de levar a vida. Na guerra contra o preconceito, compartilhando a via pública e multiplicando respeito.

Nota:  “Uma em cada cinco vítimas de quedas atendidas no Hospital das Clínicas, (em agosto de 2012), se acidentou nas calçadas de São Paulo.”FSP 05.11.2012

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Fuxico




Aproveitando retalhos. Bebendo de fontes artesanais.   Remoendo ensinamentos. Cacos de vidas em instantes mágicos.  Juntar cada pedaço.  Enlaçar.

É no Centro de Cidadania da Mulher de Santo Amaro que se dá o advento. O destino da diversidade nas tramas e fios.  A nossa facilitadora Lu Maciel, o fio condutor desta magia. 

Polegar opositor. Mãos que fazem. Intensas histórias de vida. Pedacinhos de tecidos de cores e amores. Uma forma de oração. Corações vividos. Laços cingidos. Desenrolar de casos. Casear e conversar. De novelas, de políticos. De viver e de ser. Enquanto se realiza o fuxico, a mente se aquieta. O eu interior se organiza. “Fuxico terapia”.  Meditação transcendental e uma forma de oração.

Viemos do meio, somos o meio, estamos no meio.  Sem rodeio. Um pequeno círculo com as extremidades alinhavadas e já temos uma flor. No círculo dessa amizade sai um pássaro, um bichinho. Afagos. O buraco da agulha, o passar da linha e o desenrolar da existência. Mosaicos de amor e beleza.  Sussurrar e liberar o pensamento. Soltar a voz.  Customizar.  Trouxinhas transformadas.  Falas re-significadas. Ponto atrás, chuleado e corrente.

Consta que nenhum país produz mais fuxico do que o Brasil.
Tudo começou com o cultivo do algodão. Os índios o cultivavam e teciam suas redes.  Era só um trançado. Ainda não era tecido. Os jesuítas não gostaram dessa gente assim pelada. Catequizar e vestir. Daí, para o desenvolvimento do tecido. Em toda propriedade, um tear para a produção manual de tecidos de algodão.  A fartura de pigmentos naturais possibilitou a variedade de cores.

Nesta época, indústrias caseiras fabricavam além do tecido de  algodão, o fustão,  as chitas e alguns brocados. Esta miscigenação cultural gerou a criatividade da nossa gente.  Inspiração total. O fuxico, dizem, tem sua origem atribuída aos escravos africanos. Já no século XX, se popularizou dentro do universo do patchwork.

Fuxicar é também fazer amigos. Se alegrar, se estimar. Importante no grupo de fuxico do CCM,  é o ambiente de camaradagem. Onde, é fácil criar e sorrir. 


17.10.2012
CCM= Centro de Cidadania da Mulher de Santo Amaro
Rua Mario Lopes Leão, 240