quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Folia típica



Choveu na véspera. As plantas daquele jardim brilhavam como o olhar das meninas.

O trabalho envolvia buscar as pessoas que publicaram suas histórias e relacioná-las com conceitos de hospitalidade, turismo e responsabilidade social.

Eram alunas do curso de Bacharelado em Hotelaria, do Centro Universitário SENAC - Campus Santo Amaro. Estavam envolvidas em um projeto sobre o Carnaval.  Então, recorreram ao site "São Paulo Minha Cidade", promovido pela São Paulo Turismo.

Convite feito e aceito. Lá estava eu na manhã radiante contando o que havia por trás da minha história "Tudo é Carnaval", publicada neste sítio.

Meu imaginário povoou-se de lembranças soterradas no batuque daqueles idos. Bem no estilo do, “não põe corda no meu bloco, nem vem com seu carro forte, nem dá ordem ao pessoal”. Desandei a falar.

Lembranças em marcha. Fui pra “Maracangalha”.

Em 1957, o governador de São Paulo, Jânio Quadros, proibia o rock’n’roll em bailes, alegando afronta à moral e aos bons costumes. Na mesma época, crianças empunhavam frascos de lança-perfume em inocentes cortejos. Era um esguicho frio e perfumado, fabricado pela empresa Rodo. Evaporava-se rapidamente. Foi banido em 1961, acusado de ter se tornado uma espécie de droga, que era cheirada, em lugar de ser esguichada nas pessoas. Confete, serpentina e lança-perfume eram elementos carnavalescos e aliavam a “loucura” da folia típica do entrudo, à sofisticação das brincadeiras ao estilo francês.

Na São Paulo dos anos 60, as marchinhas sucediam-se ao embalo de Cuba Libre: 50 ml de rum com 100 ml de Coca-Cola, em copo com gelo e uma fatia de limão. Ou, Hi-Fi: vodka e Crush (a base de laranja). De comida? Amendoim e pipoca. Mas se você pensa que cachaça é água, cachaça não é água não.

Enfim as águas rolaram.

Hoje, os holofotes estão voltados às grandes escolas de samba e trios elétricos que movimentam o turismo. Porém, desde que o carnaval é carnaval, muita coisa rola onde menos se imagina. Aqui mesmo na região sul, temos o Bloco Reciclar a garantir bagunça barata, sustentável e fora das cordas.

Pela saudade que me invade, eu quero paz.