sexta-feira, 7 de junho de 2013

Reféns do medo





O filho sofreu um seqüestro- relâmpago. Ao estacionar na calçada da rua Olavo Bilac, região de Santo Amaro, dominaram-no. Circularam com ele pela noite afora. Sacaram dinheiro, fizeram compras, tudo o que podiam. Raparam o que tinha na mochila. Enfim, aquele terror todo, que conhecemos bem dos noticiários policiais, do pão nosso de cada dia. Pra encurtar conversa, ele acabou sendo liberado na Marginal Pinheiros, de madrugada, no frio da desesperança. Com a ajuda do pessoal de um posto de gasolina, conseguiu contatar o irmão que foi resgatá-lo.


Amanheceram fazendo Boletim de Ocorrência.  Questão de “estatística”. Sabemos que são raras as soluções para este problema já de tão crônico nesta cidade. Polícia que privilegia o confronto e a prisão, gerando mais matéria prima para o crime organizado, ao invés de fazer prevenção. 


Estamos todos nós, reféns do medo. A própria polícia manda não reagir, entregar tudo, respirar fundo e dar graças que Thanatos, o Deus da Morte, não se fez presente naquele momento.


O prejuízo foi grande. Ele havia equipado o carro. Além disso, levaram celular , óculos e mais coisas que o seguro não cobre. Fora a chateação com a imensa burocracia e demora no ressarcimento.


Vivemos numa guerra urbana, essa é a verdade. Sempre ensinei aos meus filhos, que quando nascemos ninguém nos prometeu um mundo justo.  Jamais combater a violência com mais violência.  Equilibrar a injustiça com a bondade humana. Acreditar na força do bem. Neutralizar a revolta e intolerância com atitudes que possam melhorar nossos dias neste planeta. Aceitar as adversidades e mistérios da vida. Enfim, viver bem no mundo que se tem.


O desejo de segurança nos acompanha dolorosamente. Ter pessoas próximas dominadas, roubadas de seus pertences, aterrorizadas, é como despencar de um abismo sobre pedras pontiagudas. Alteram-se hábitos básicos. Trava-se a garganta.  Nuvens escuras toldam os pensamentos. A sensação de impotência deixa-nos prostrados.


Cevaram meu ânimo. Desancaram-me e faltou-me o chão.  Parecia que roubaram minha alegria e disposição de falar. A única vontade era ficar isolada, quieta. Passei do estado de preocupada para o de aflita, agoniada. 


Mas, como se diz por aí, a sombra não existe sem a luz, nem a luz existe sem a sombra. Embora traumatizados, clareou. O apoio e solidariedade dos amigos pontilham o céu da esperança com numerosas estrelas. Assim os sonhos dão lugar aos pesadelos e a vida continua.




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