domingo, 27 de janeiro de 2013

São Paulo de todas as cores, amores e dores


Era um maio cinzento e frio de 1960.
Entardecia e os prédios, naquele tempo, chamados de arranha-céus, me espiavam do alto do seu concreto e de suas esquinas. Meu coração acelerava e mal conseguia entregar o endereço para o chofer do táxi. Nó na garganta, estonteada. Sozinha e com nove anos.
 

Acabara de chegar do colégio Arquidiocesano de Cuiabá-MT. Paguei o taxi e me vi na calçada em frente ao convento da avenida Nazaré-SP. Fazia um frio que eu nunca tinha visto. A garoa fina mais o vento, levantava minha saia refrigerando meus temores.
 

Tinha um saquinho com meus pertences. Nas mãos trêmulas, uma recomendação para a madre superiora. Meu vestido era de linho branco entremeado de rendas. O queixo batia e quase não conseguia falar com a freira que me atendeu pela portinhola. Brandi meu envelope com a recomendação e fui autorizada a entrar.

Fui ficando, estudando e trabalhando. Venci alguns obstáculos, outros apenas contornei.
 

Cheguei com um saquinho de roupas na mão. Hoje, se fosse me mudar daqui, seria necessário um caminhão bi-trem para transportar os meus trens.
 

Diziam que São Paulo era ilusão. Fábrica de loucos. Enlouqueci por oportunidades nunca sonhadas. Perdi-me nos becos dos saberes. Embarafustei-me nas oportunidades de trabalho. Apaixonei-me por suas gentes, oriundas de toda parte.
 

Encontrei meus amores. Fiz daquele rascunho minha arte final.

São Paulo de todas as cores, flores e dores.

2 comentários:

  1. Suely, sua sensibilidade nos contagia. Lindo seu texto. Parabéns pra você e pra nossa querida cidade.Beijos

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  2. suely aparecida schraner28 de janeiro de 2013 às 16:16

    Muito obrigada, Margarida! Beijos. Adorei sua visita e palavras.

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