segunda-feira, 11 de abril de 2011

Urso, eu?


foto by suely schraner

Expelido de uma ninhada de oito. Um caminho úmido e pegajoso. Rolei e minha mãe foi logo me lambendo.  Não demorou muito e ela já tinha que se ocupar com o próximo. Que fome que eu tinha. Alcancei a teta e me esbaldei. Quando minha irmã foi procurar uma teta, eu avancei nela. Sobrou aquela que eu tinha esvaziado.

Dizem que os animais racionais são assim chamados porque desenvolvem córtex frontal do cérebro. Isso os permite controlar os instintos e adequá-los ao convívio social. Não é pra mim. Queria todas as tetas do mundo. Que coisa boa é comer. Meus donos, vendo-me tão redondinho e subindo naquelas montanhas de leite, deram-me o nome de Urso. Os olhos e o pelo claro, eu herdei do meu pai Vicking, que já morreu. As orelhas, o cenho franzido, mais a doçura de mel, eu puxei da minha mãe Helga. Ela é uma boxer  e agora está velhinha. Faz xixi dentro da casinha. Antes, ela era “meu táxi”. Eu adorava subir em cima dela enquanto andava. Com ela, aprendi a fazer xixi dobrando as patas. Nem sei marcar território direito. Depois de tanto falarem, resolvi levantar uma perna na hora H. Desajeitado, na maioria das vezes, perco o equilíbrio.

No universo gay, ser urso é um estilo: másculo, fortão e fofo. Devorador,eu?  Os ursos são considerados os maiores carnívoros. Quando mais jovem, se demoravam pra me dar a ração eu ficava em pé na janela e uivava mesmo. De carne eu gosto muito. Aliás, provo tudo que encontro e devoro numa bocada só. 

Sou um legítimo SRD. Tenho boa intuição e faro mas, a coragem eu preciso buscar no fundo da alma. Escuto bem e adoro pular. Fico em pé e abraço antes que me abracem. Não namoro e saio pouco. Sei contar o que aconteceu na ausência de meus donos. Costumo latir em vários tons. Sou grandão e rumoroso. Outro dia, caiu um bicho esquisito aqui no quintal. Não pude controlar meu pavor e urinei perna afora. Que mico. Minha dona me perguntou: “Urso, você é um cão ou um rato? Isso é só uma pipa!” Que vergonha.

Salto muito e sei cavar muro. Quase chego no Japão. Posso colaborar nas obras do metrô de Santo Amaro.

Não gosto quando meus donos saem. É muita responsabilidade. Preciso latir e vigiar o tempo todo. Se vejo um papel voando na rua, considero uma afronta e vou logo latindo o mais alto que posso. Outro dia, tanto fiz que, consegui entrar pela fresta do alambrado do jardim. Cavei bastante. Uma farra. Depois, não dei conta de sair e fiquei no sol quente. Sem água nem nada, até minha dona chegar. Já fiz do bebedouro de plástico, uma peneira. Jogava pro alto e aparava com os dentes. Uma festa.

Quando levo bronca,saio andando de lado, aperto bem os olhos, encolho  meu cotoco de rabo e entro logo na casinha.  Não gosto que ralhem comigo.

Por amor dou a patinha e sento, mesmo sabendo que o que eu quero mais é pular, ficar em pé, abraçar. Urso, eu?



5 comentários:

  1. Olá, Suely!
    Que lindoooo,o Urso!
    Saudade de meus cães...snifff...
    Um deles era timido e medroso...o outro era arisco e latidor. Latia até para sua própria sombra na parede...kkkk
    Adorei a história do Urso.
    Valeu!
    Muita paz! Beijossssssss

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  2. Obrigada, Soninha!
    A Helga, mãe do Urso, morreu anteontem e deixou um rastro de lágrimas. O Urso está órfão, andando de lado e olhando pra trás. Na maior tristeza.
    Muita paz pra voc~e também. Grata pela visita.

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  3. comentário da Marcia Ovando, via e-mail:

    "Esse Urso parece bem danadinho e meigo.Que êle por um longo tempo lhe traga muitas alegrias!
    abraço".

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  4. Linda e emocionante a historia do Urso, Retiro tudo que desejei pra ele, pois ele é merecedor dos donos que tem.I merece viver muitos anos com muita alegria e saúde!!! Abraço Su.

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    1. Obrigada, querida Cinelândia! O Urso nem ligou. Ficou todo convencido com o elogio. Beijos

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