domingo, 16 de janeiro de 2011

Capitano d’industria



Reza a lenda que serviu a Mussolini. Era da marinha e viu o mar tingir-se de vermelho na guerra.

Só emoção. Coração na boca. Para o bem e para o mal. Ou oito ou oitenta. Gostava demais. Sentia raiva demais.

Se ela legislava a favor de um empregado, ele retrucava: Quem paga o seu salário, sou eu ou é ele? Para logo em seguida, concordar.

Até para pedir um copo d’água, um palavrão, em italiano ou português mesmo. Era de lei.

A maturidade, a experiência e afeto permeados de confiança. Confio até me provarem o contrário, dizia. Competia consigo próprio.

Sua gargalhada ressoava pelos corredores. Da mesma forma que dava murros no balcão, se algum documento sumia. Um dia, a funcionária nova não encontrava o documento solicitado. E ele: Toda vez que procuro este documento, tá na casa do caralho! A Jurema retrucou baixinho: Não sabia que tinha casa... Já, a funcionária nova, que era crente, nunca mais apareceu, nem pra dar baixa na carteira.

Capaz de surpreender. Ajudou o empregado a construir a casa dos sonhos. Tijolo a tijolo. Dizia que era empréstimo. Nunca aceitou pagamento de volta. Mas numa falta profissional, gritava: Bastião, você é um bosta!


Seu objeto de sonho era construir casas populares para todos os empregados.

Quando soube da viuvez precoce da ex- funcionária, mais que depressa lhe ofereceu o emprego de volta. Estou no sexto mês de gravidez, ela disse. Gosto de gente que trabalha, esteja grávida ou não. Pode vir. E isso, foi a sua salvação, já que nem enxoval, nem berço ela tinha.

Num belo dia, ele comprou uma Mercedes. Orgulhoso a chamou para mostrar a maravilha. "Como o senhor pode andar num carro que custa mais que um apartamento, com tanta gente sem ter onde morar?" E ele: Prefiro ser vaiado numa Mercedes que aplaudido num ônibus.

Inteligente e trabalhador. Um capo de indústria. Tenacidade e dedicação fizeram o pequeno negócio, iniciado numa garagem, se transformar numa referência em matéria de pastifício.

Era o primeiro a chegar e o último a sair. Dizia que o escritório era o cartão de visita. Queria moças bonitas e eficazes. Limpeza era regra absoluta. Um dia, um entregador apoiou a mão suja no portal. Ao ver isso, ele deu um tranco que o coitado se desequilibrou, sob o riso de todos. O batente da porta era todo branco, não podia ter nem uma manchinha...

A massa que fabricava era excelente. A mesma que ia para o mercado, era servida em sua mesa.

No Natal, não economizava. Panetone da Di Cunto, pernil e caixas de macarrão pra todos.

Uma tristeza porém, minava sua resistência.A vida inteira dentro da fábrica, só compensada pela certeza da volta ao lar no fim de cada dia. Lar que deveria desocupar. Perdeu em última instância, o direito de continuar onde vivia há muitos anos.Desapropriação, para aumentar o jardim do palácio do governo.

Desajustes na sociedade e má gestão o forçaram a vender a fábrica. Mais desilusão. A vida se esvaindo num câncer definitivo.
Suas últimas palavras ao morrer: Foda-se

P.S.:

Foda, vem do grego antigo e significa "mina".

FODDERE, significa "escavar" ou "cavoucar".

FODINA, significa algo como "mina pequena, sem
importância, com baixo rendimento extrativista".

Assim, o termo FÓDA virou analogia do ato sexual,
muito provavelmente, devido ao esforço masculino
sobre o corpo feminino, como num trabalho "árduo".

Curiosamente, alguém dizer "VOU FODER A MINA",
significaria, literalmente, que iria escavar no túnel,
em procura de algo precioso...
Fonte: http://www.dicionarioinformal.com.br/





Um comentário:

  1. |
    josefa kotowicz de oliveira
    Suely, q lindo texto, voltei , voltei varia telas na minha mente
    ainda bem q não deletei essas lembranças.Que tempo bom...as crianças pequenas...o trabalho no escritotro, em casa....mas era divertido.Obrigado Josefa via e-mail

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