domingo, 21 de novembro de 2010

Guarapiranga

Manhã de domingo. Sol incandescente. Centenas de pessoas atenderam ao apelo tire sua bunda do sofá. Vida é movimento?

Menina magrinha, negra como as asas da graúna, desdentada. Copo plástico na mão, até a borda de caninha. Arriou o calção azul. É de bunda que eles estão falando? Então aqui está a minha, sorria ela para os irmãos de rua. Outro, dormia, encolhido e debaixo de pequeno cajueiro em flor. Virada nada cultural e ainda poética.

Público diverso. Biodiversidade.

Cachorrinho magrela, cor de burro quando foge (corro do burro quando ele foge- diz o professor). Costelinhas à mostra. Nenhum petisco no chão. Língua de fora. Nada de água. Cheira daqui, cheira dali. Um, joga a garrafa d’água vazia. Outro joga pedra, assustando-o ainda mais. Pernas pra que te quero. Atleta off line em desabalada cultural. O viver perigosamente. Sobre um viver náutico. A vidinha, um esporte radical. Moça da inscrição, deixa meio copo de água, no chão. Tampado até a metade. Não deu desta vez. Derrubou tudo. Segue correndo. Velocidade máxima. Língua de fora, sem medalhas nem migalhas. Campeão da vida pelo avesso.

No Bungee Jump, corajosos se borrando e se esgoelando numa descida eletrizante.

No ar, helicóptero verde despeja valorosos cidadãos nas águas plácidas da Guarapiranga. Primeiro Air Show Festival no Brasil. O Swoop (salto de paraquedas a partir de um helicóptero). O paraquedista se aproxima do solo, a cerca de 100 km/h. Tocar os pés na água, empertigar-se no alvo. Equilibrar-se. O homem é um ser vertical? Atletas de Swoop, Wakeboard, Canoa Havaiana, Stand Up Paddle. Heli Coaster (preso a um motor o participante é suspenso a 40m de altura e faz manobras radicais), Simulador de Asa Delta, os Jogos Ecológicos da Cantareira mais a Virada no Gelo. Muita ação na observação, sem perder a esportiva. Nossa! Quanta novidade! É cada uma, que parece duas.

Quem entende tanta coisa?

10 comentários:

  1. Miguel S. G. Chammas disse...
    Pois é Suely, eu também não entendo dessascoisas, apenas entendo que li seu texto e considerei-o de ótima qualidade, bem encaixado no tema central do nosso blog.
    Seja benvinda, escreva mais.
    Ah não se esqueça de ler os demais textos do nosso blog e comente-os também, afnal nem só de Sandemberg nos vivemos não é?
    http://memoriasdesampa.blogspot.com/2010/11/guarapiranga.html?spref=fb

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  2. Arthur Miranda via 24 de novembro de 2010 09:24
    http://memoriasdesampa.blogspot.com/2010/11/guarapiranga.html?spref=fb

    "Não entendo muito desse esporte, mas pude entender muito bem o sofrimento do cão abandonado,faminto e maltratado então pensei: Até quando, vamos ver gente e animais abandonados. Belo texto Suely, ele me deixou querendo muito mais."

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  3. Luiz Saidenberg disse...
    Belo texto, sempre informal, Suely.Os mega eventos de S. Paulo. ..minha esposa diz que qualquer coisinha vira Mega, aqui. Virada Cultural, Virada Esportiva... Quanto a mim, prefiro virar é as costas a esses eventos, e fugir dessas multidões. Mesmo porque o Centro de S.Paulo não tem estrutura para nada disso. Aonde se esconderão os sem teto de lá, como fez esse cão abandonado? Abraços.
    24 de novembro de 2010 09:35 http://memoriasdesampa.blogspot.com/2010/11/guarapiranga.html?spref=fb

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  4. Wilsonnatale disse...
    Suely, a Vida é rica! E sempre nos surpreende. Tirar a bunda do sofá, deixqr de lado o controle remoto e sair pela vida em busca de aventuras é bom demais. E a vida nos dá sempre o inesperado: a experiência do novo, sem os filtros ou exagero da telinha.E a Guarapiranga dos barquinhos a remo, dos farofeiros de fim de semana, dos pescadores e dos cachorrinhos esqueléticos e famintos, deu-lhe de presente o novo da vida.
    E a vida é isso. Viver o cotidiano e o novo - o inesperado. E libertar bundas aprisionadas em acios sofás.
    Amei o texto!
    Abração,
    24 de novembro de 2010 11:35 http://memoriasdesampa.blogspot.com/2010/11/guarapiranga.html?spref=fb

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  5. Laruccia disse...
    Abstracionismo de uma narrativa concreta, condicionada a interpretações divergentes da estrutura clássica de uma escrita.
    Numa visão extenporânea, deparamos com seres animados, amordaçados, impedidos de expor suas reivindicações, dsejosos de uma liberdade caracterizada pelo anceio de não continuar sob a tutela lasciva e malvada de um monstro rotulado de ser humano. É simplesmente revoltante tanta crueldade, não é mesmo, Suely?
    Gostei de sua dissertação, parabéns.

    24 de novembro de 2010 12:22 http://memoriasdesampa.blogspot.com/2010/11/guarapiranga.html?spref=fb

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  6. Soninha disse...
    Olá, Suely!

    Seu texto me fez lembrar dos passeios para Guarapiranga, de nosso tempo de adolescente...
    Era uma verdadeira viagem, para nós, pois morávamos na vila Prudente, bem distante da Guarapiranga.
    Lembro-me que meu pai gostava de pescar e nós, meninas,íamos passear de barco...Tempos depois, nossa intenção era outra...paquerar, flertar...tempo bom.
    Valeu.
    Obrigada.
    Muita paz!
    24 de novembro de 2010 20:27 http://memoriasdesampa.blogspot.com/2010/11/guarapiranga.html?spref=fb

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  7. Nelson de Assis comentou via http://memoriasdesampa.blogspot.com
    O cachorrinho se divertiu à béça e não tava nem aí para os esportes radicais. Ele mesmo já era um desportista nato em meio a tanta natureza. Guarapiranga. Quantas saudades de Interlagos.
    Abraços
    25 de novembro de 2010 00:24

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  8. Luiz Saidenberg comentou via memorias de sampa:
    Vejo-me obrigado a me justificar. Sou absolutamente contra afundar a bunda no sofá, especialmente para ver novelas e programas tipo Sílvio Santos. Bem ao contrário, fazemos caminhadas todos os dias, e só não faço mais porque, com uma tendinite no braço, tive de parar a musculação. Pratiquei algumas artes marciais, durante bom tempo.
    Mas, fazer esporte espontâneamente
    é bem diverso de ter de fazê-lo por evento oficial. Aí, sim, multidões que geralmente nada fazem invadem praças e ruas, e salve-se quem puder. Desse tipo de exercício, prefiro ficar longe. E em prova de distância, de preferência.
    25 de novembro de 2010 07:48 http://memoriasdesampa.blogspot.com/2010/11/guarapiranga.html?spref=fb

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  9. MLopomo disse...
    Suely, lendo seu texto vejo quanta diferença da Guarapiranga de hoje com a represa de anos atrás. Eu que sou da zona Sul já anos ia a Guarapiranga pescar, e só pegava Lambaris, quando muito cará ou Tilapia, de vês em quando um Bagre ou Traira. A água era bastante limpa e o São Paulo Atletic Clube colocava dezenas de barcos a Vela para disputa. Tambem alguns moradores vizinhos da represa também tinham seus barquinhos. Muitos com intuito de pescar no meio da represa. A Guarapiranga já tem poluição, porque as moradias próximas ao manancial onde os dejetos são levados in natura sem o devido tratamento. E essa é água que bebemos, que vai passar por um tratamento nos tanques da Sabesp do Alto da Boa Vista. As autoridades não prestado atenção, quando existe a estiagem para dar um tratamento melhor a represa. Em 1985 quando da grande seca que foi de junho até dezembro que a represa ficou com apenas 4% de água, a sujeira que podia ser retirado do seu leito como montanhas de areia que formavam ilhas. Se tivessem passado as maquinas tirando aquelas montanhas de terra e areia o reservatório receberia mais água e ela voltaria a ficar mais limpa, mas quem voltou foi a chuva que inundou-a novamente com tudo de ruim que estava lá e, não foi retirado do seu leito.
    25 de novembro de 2010 14:24 http://memoriasdesampa.blogspot.com/2010/11/guarapiranga.html?spref=fb

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  10. Zeca disse...
    Suely, gostei demais do texto! Nunca tive oportunidade de passar um dia à beira da represa que, em outra época, era a praia dos paulistanos e ficava lotada nos finais de semana, com famílias inteiras se divertindo em suas margens. Mas não a conhecí assim. Apenas de passagem, para o litoral. Hoje buscam rehumanizá-la, devido à deterioração provocada pelo crescimento vertiginoso das cidades e pelo descaso de todos os governantes que tivemos até hoje. A esperança é que um dia, nossos netos ou os filhos deles possam voltar a brincar em seu entorno. Assim como deixem de existir cachorrinhos esqueléticos à procura de restos. Que as pessoas se compadeçam dos menos favorecidos e também dos animais abandonados, oferecendo-lhes melhores condições de uma vida mais decente! Excelente texto que, para comentá-lo, vai puxando considerações que, se não tomarmos cuidado, se transformarão em outros textos!
    Abraçõ.
    26 de novembro de 2010 12:14 http://memoriasdesampa.blogspot.com/2010/11/guarapiranga.html?spref=fb

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