domingo, 10 de janeiro de 2016

Figuras de São Paulo





O dia estreava em sol fulgente.

No terminal  Santo Amaro, o 675L/10 metrô Santa Cruz, demora pra sair. Lá embaixo outra fila se formou.

Da janela eu o vi.  Muito magro, o rosto lembrava o presidente americano Barack Obama. Vestia um terno marrom escuro, camisa listrada de azul e branco. Gravata, vermelho escarlate. Nos pés, sapatos pretos reluzentes. Nas mãos, a Bíblia surrada, encardida. Encosta ao lado da moça de saia longa. As estampas da saia dela chamam a atenção pelos desenhos miúdos da bandeira de São Paulo. Veste um casaquinho verde de listas amarelas. É loira e seus cabelos dourados descem em cascata pelos ombros. Tem dois celulares a à mão.

Ele abre  a bíblia. Encosta a boca ao ouvido dela. Seus lábios se mexem incessantemente. Quem sabe murmurem: “Portanto vos quero fazer compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: 'Jesus é anátema.' E ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo. - Coríntios  12:3”

Ela o ignora. Agora com força,  coloca os fones nos ouvidos. Olha na telinha de um e guarda o outro na bolsa.Tecla freneticamente no aparelhinho.  Dá-lhe as costas enquanto lê algo. Talvez o que disse Baudelaire, “quem não sabe povoar sua solidão também não saberá ficar sozinho em meio a uma multidão”.

A visão dura pouco na boca do tempo. O motorista entra e o veículo  arranca.

Figuras do Terminal me remetem à síndrome do flanelinha: não perseguem a glória, somente querem assegurar a vaga.

http://suelyaparecida.blogspot.com.br/

















sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Ano Novo



O ano novo é só o dia seguinte
Seguinte é este instante
Magia de instante vivido, relido.
Releitura de um tempo que se foi. 
Releitura de um tempo que já vem.
Presente? Passado? Futuro?

Passagens.

Passagem de ano. 
Passagem de rodoviária.
Passagem de aeroporto.
Passagem do cais do porto. 
Passageiro desta vida.
Passamentos.


De lembrança em lembrança, um tempo que vai e vem.
O cérebro em ondas magnéticas.
Separa daqui. Apaga dali. Reedita dacolá. 
E o Ano Novo chega já.

Que traga muita esperança

Energia renovada
Força latente
Pensamentos
Momentos
A vida seguinte

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Carta à Noel

Í



Querido Noel

Naqueles idos, um parto “fórceps” mais  a hipoplasia, te deixaram sequelas. Hoje, um mosquitinho de nada,  anda fazendo estragos nas cabeças dos nenenzinhos. Trata-se do mosquito  que é vetor do vírus zikv  e que causa  a infecção “Zika vírus”.

É, caro cantor e compositor, “deu zica”. Uma zica geral.  Como disse Camões lá atrás,  “a pátria está metida no gosto da cobiça e da rudeza,  de austera, apagada e vil tristeza”. Com certeza,meu poeta,  seu bandolim choraria os mais triste  acordes hoje em dia. Seus desafetos teriam orgasmos cívicos, tripudiando sobre seu talento. 

Seu humor e sua crítica bem humorada, não dariam conta dos comentários ácidos e rasos das tais redes sociais. Aliás, estas, deviam se chamar “redes anti-sociais”.

Noel, é seu aniversário  e eu não deveria estar dizendo essas coisas. Entretanto, sua partida precoce livrou-o de poucas e boas. Fumar? Nem pensar. Todos os fumantes agora são párias. Beber? Só se fôr pedestre. O tal do bafômetro te flagra e é xilindró na certa. Namorar? Transar? Só se for “encapado”. “Com que roupa eu vou? 

Vou me despedindo por aqui. Pra quê mentir, se tu não tens esse dom de saber  iludir? Só me resta pedir ao garçom uma média, um copo d’água bem gelada, que eu não estou disposta a ficar exposta ao sol.

 Suas composições iluminam os meus ais. 

Abraços saudosos.