sexta-feira, 24 de junho de 2016

Versos e reversos







suely schraner



Palavras no silencioso caminhar. Caminhar pelas praças e ruas com toda palavra. Palavra que mora na gente, nas coisas, nas sensações a espera do despertar. Despertar no cheiro ácido do abacaxi de cinco dinheiros. Dinheiros como as águas poluídas num quase silêncio. Silêncio de olhos cheios de claridade. Claridade do sol que banha a gente na paisagem que se abria num catálogo de sons. Sons calados no amontoado de ruídos do mundo. Mundo que acolhe seus talentos como quem colhe diamantes. Diamantes das franjas do sol sol filtrado sob as  árvores. Árvores pejadas de poesia. Poesia-fruto em passos largos de solidão da paternidade em seu pedal frio. Frio das aves ausentes. Ausentes da procissão de carros. Carros parados no sinal da esquina da farmácia. Farmácia que ignora a viatura da polícia, o resgate, a doença e o risco. Risco que a rota das folhas conhece bem em meio ao lixo da relva. Relva na praça sem criança. Verdade, mentira. Mentira que afaga vergonhas e abranda temores. Temores, lágrimas, suor e graça na poeira de São Paulo. São Paulo a senha pra fruição, amores, desamores, quereres. Quereres num sol forte em fim de tarde como o trapezista do circo saltando no espaço sem rede de proteção. Versos e reversos.

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