quinta-feira, 2 de outubro de 2014

O prédio



foto by suely schraner




A tarde trazia consigo melancolia de pôr-do-sol. Andara o dia o dia todo. As têmperas latejando. Britadeira batucando do outro lado da rua. Demolira planos. Rompera ilusões. Nadara em águas revoltas. Nebulosas da memória. Mistura de vinho com Rivotril, as suas sinapses poéticas.

Ávidos edifícios o espreitam.
Pele de vidro e frita aves. Caleidoscópio lancinante. Lugarzinho inabitável. Áreas descomunais. A planta letal. A vida por um fio é que dá força para amar. Certificar o nada.
O desespero a um passo da felicidade.

Deu por si e estava diante dela.
“Não esperava te encontrar aqui”. “Ah, bem sabe que minha vida é nos cascos”. “Sei, nos sapatos e na cama”. “Andou chorando?”
Abaixa os olhos. “Cisco”.
Sinto que gostaria de me beijar. “Diga-me, será que desta vez conseguiremos? “O não nós já temos". "Agora, é tentar o sim”.
Passam despercebidos.

No andar, começara a sentir-se mal. “Você está doente? “Cisco”. Tá brincando! “Sinta o cheiro”. De morte? “Não amole, é cheiro de felicidade”.

Embolados. “Sabia que o corpo fala? Às vezes faz bem ficar doente”. “É a vida chamando a atenção da gente”. Tem o dinheiro?
“Daqui dez dias”. “Dez dias não é possível. Até lá...”

Saem.

O sol se escondera detrás do prédio.
Espelhado e colorido.
Caleidoscópio onírico. Na planta ou próprio para morar. A vida alucinada. 
Certificação AQUA- alta qualidade ambiental. Áreas comuns generosas.
A felicidade a um passo do desespero.





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