Hoje, a Lei Maria da Penha completa 11 anos...
Tiro de misericórdia
Por:Suely Schraner
Fé naquelas coxas fatigadas da faxina
Coxas que aplacam suas raivas
Frustrações
Senhor absoluto daquelas pernas
Coração na goela
Rios e córregos.
Regos, fendas
Vulva
Os meios. As beiradas.
Nossos veios
Origem do mundo
Assim ele a via
Se sentia
Pro-pri-e-tá-rio
“Çê tá querendo me largar? Tem outro, né? Agora cê vai ver...
Tem filho pra criar? Problema seu. Devia ter pensado antes.”
Tarde da noite pula o portão. Arromba janela do quarto.
Arrasta-a para a sala.
Chutes, pescoções, palavrões. Muitos.
Rasga a roupa, rasga alma.
Amor?
Rasga tudo.
Estatelada no chão. Esfacelada na vida.
Vilipendiada.
Em cruz como um cristo do cotidiano,
não fosse as pernas
escancaradas no chão frio como a noite escura e fria.
Na vagina, o tiro de misericórdia.
Matou. Ficou por isso mesmo.
Zanzando por aí. Mesmo sorriso de escárnio. Pra todo mundo ver.
Filho dela espreitara tudo
o vão, a porta do quarto.
Depois da fuga, o menino sai
Abraça a mãe sem vida.
Mãos postas em oração.
Promete:
“Quando eu crescer mãe, eu mato ele”.
(baseado em fatos reais)
Pano de prato e texto:
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