O dia estreava em sol fulgente.
No terminal Santo Amaro, o 675L/10 metrô Santa Cruz, demora pra sair. Lá embaixo outra fila se formou.
Da janela eu o vi. Muito magro, o rosto lembrava o presidente americano Barack Obama. Vestia um terno marrom escuro, camisa listrada de azul e branco. Gravata, vermelho escarlate. Nos pés, sapatos pretos reluzentes. Nas mãos, a Bíblia surrada, encardida. Encosta ao lado da moça de saia longa. As estampas da saia dela chamam a atenção pelos desenhos miúdos da bandeira de São Paulo. Veste um casaquinho verde de listas amarelas. É loira e seus cabelos dourados descem em cascata pelos ombros. Tem dois celulares a à mão.
Ele abre a bíblia. Encosta a boca ao ouvido dela. Seus lábios se mexem incessantemente. Quem sabe murmurem: “Portanto vos quero fazer compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: 'Jesus é anátema.' E ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo. - Coríntios 12:3”
Ela o ignora. Agora com força, coloca os fones nos ouvidos. Olha na telinha de um e guarda o outro na bolsa.Tecla freneticamente no aparelhinho. Dá-lhe as costas enquanto lê algo. Talvez o que disse Baudelaire, “quem não sabe povoar sua solidão também não saberá ficar sozinho em meio a uma multidão”.
A visão dura pouco na boca do tempo. O motorista entra e o veículo arranca.
Figuras do Terminal me remetem à síndrome do flanelinha: não perseguem a glória, somente querem assegurar a vaga.
http://suelyaparecida.blogspot.com.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário