livro "Uma vida entre livros" e a carta adorável
Uma
viagem ao mundo dos sentidos. Era 1962. Festa de natal dos funcionários da
Metal Leve, em Santo Amaro. Farejou o aroma dos comes e bebes. Pais e filharada
tudo junto. O pai, faxineiro e oito filhos. Bom ‘salário-família’, na época.
Somados todos os filhos, salário fixo mais que dobrava.
Ela
vibrava com os sons da alegria que chegavam aos seus ouvidos, anunciando
presentes nem sequer sonhados.
Saboreou
os sanduíches fartos e sucos que não eram Tubaína nem Grapette. Gostou dos
doces que não eram Neuza nem Paçoquinha .E tinha maçã do amor.
Tateou
seu pacote e sentiu o coração acelerar. Tinha brinquedo e tinha um livro: Uma
Folha na Tempestade, de Lin Yutang. Seu primeiro livro novo.
Deslumbrou
uma nova viagem literária. O prazer de ler que sua vista alcançava, era:
revistas velhas ‘Sétimo Céu’, a revista Detetive e X-9. Também qualquer outra
sobra que encontrava. Até bula de remédios.
José
Mindlin, maior bibliófilo do país, advogado, empresário, conselheiro, entre
outras coisas. Não tinha dificuldade em conciliar os múltiplos interesses. Os
livros, um fio condutor de uma vida inteira. Percorrendo diversos caminhos ao
longo dos seus 95 anos, foi um divisor de águas na vida daquela menina.
Plantando sementes, gerando novos leitores.
Sempre
viu a empresa como uma instituição de progresso coletivo, com obrigações
sociais incluindo a cultura. Sentindo-se um peixe dentro d’água na imersão nos
livros e na responsabilidade social. O interesse cultural desde sempre.
Passados
mais de quarenta anos, ela lhe escreveu contando sobre o quanto a atitude em
dar livros de presente na cesta de natal, foi importante em sua vida.
Dias
depois, uma resposta amável e outro livro de presente: ‘Uma Vida entre
Livros’de José Mindlin. Um eterno doador de livros a despertar ternura e
saudades.
Admiração
para sempre.
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