I
Maria Valeriana
Senhora magra e sozinha
Andava de sol a sol
Catando papel, latinha
A velhice ia longe
Dinheiro nem pra farinha
II
Na minha casa ela vinha
Pegar todo jornal velho
Qualquer coisa lhe servia
Até mesmo escaravelho
Na carroça abarrotada
Direto pro ferro-velho
III
Muitas vezes arrastava
Pra mais de oitenta quilos
Andando na maior fé
Abominando vacilos
Coluna prejudicada
Nenhum lugar pra cochilos
IV
Rendeu só onze reais
Toda a tralha carregada
Falei que era muito pouco
E que ela estava “pregada”
Que dor nas costas era grande
E a fome não mitigada
V
“O pouco com Deus é muito
E não reclamo jamais
Se, puxo a carroça agora
Garanto meus dez reais
Dá pra comprar o açúcar
E ainda me sobra mais”
VI
Ela era pobrezinha
Um animal de tração
Na carroça tudo junto
Só valeu pouco tostão
O pouco com Deus é muito
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